quinta-feira, 17 de junho de 2010

O "Caso Morumbi", a política e o dinheiro

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, disse por mais de uma vez que a Copa 2014, no Brasil, não teria estádios construídos com dinheiro público.

Na quarta-feira, 16, em dobradinha com a FIFA de Joseph Blatter e Jérôme Valcke, Teixeira sepultou o Morumbi como o estádio de São Paulo para a Copa 2014.

As alternativas passam a ser: ou São Paulo não faz a abertura, ou Pirituba, sonho do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, é uma aposta. (Mas há outra, como veremos abaixo.)

Kassab jura de pés juntos que Pirituba, um complexo de R$ 6 bilhões com hotéis, Centro de Convenção e estádio, não é para 2014. Seria para a EXPO 2020. E que não terá dinheiro público.

Nos bastidores, São Paulo, quem tem poder em São Paulo, murmura que a tese correta seria a do triunvirato: Ricardo Teixeira, com a simpatia da FIFA, estaria pensando num estádio em Guarulhos, tendo a secundá-lo o multi-empresário J. Hawilla e, ao fundo, o herdeiro do tal estádio: o Corinthians, de Andrés Sanchez, aliado de Teixeira e chefe da delegação do Brasil na Copa.

Todos, notem bem, todos envolvidos e citados juram que não querem nem ouvir falar, que não haverá, exatamente aquilo que todos sabemos que todos querem e que haverá: dinheiro público, do contribuinte.

Pode até haver, deveria já estar sendo debatido às claras se seria aceitável ou não, de repente é uma decisão consensual, mas é curioso que todos os envolvidos neguem exatamente o que mais desejam: dinheiro público.

Vejamos o que dizem os atores, os principais e/ou os coadjuvantes:

- Todos os governantes estão dispensados de contribuir com a candidatura. Numa Copa, cada seleção paga sua estadia. Já os campos (estádios) terão de receber investimentos privados.
(Ricardo Teixeira, publicamente).

- Eu não vou quebrar a cidade de São Paulo para fazer uma Copa do Mundo, Copa é problema da Fifa.
(O prefeito Kassab, para próximos).

- Pirituba vai sair, com dinheiro federal, estadual ou municipal, mas vai sair. Mas não será estádio do Corinthians, que vai fazer o seu estádio.
(Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, e chefe da delegação do Brasil na Copa).

- Sou apenas um corintiano querendo ajudar o Corinthians - a ter um estádio.
(José Dirceu, para a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo).

- O Brasil não usará dinheiro público para construir estádios.
(Orlando Silva, ministro do Esporte do governo Lula, tempos atrás).

- O Orlando tá espalhando que São Paulo vai usar dinheiro público porque sabe que vai haver uma derrama de dinheiro do governo federal.
(De um alto tucano paulista).

- São Paulo sabe que não tem como fazer a abertura sem dinheiro público.
(Atribuído a Orlando Silva nos bastidores).

- A FIFA fez suas exigências, eu pedi por escrito, e queria uma garantia: a de que a abertura da Copa seria no Morumbi. Não posso endividar o clube em R$ 600 milhões sem a garantia de que a abertura seria no Morumbi, e eles não deram. Veja o que fizeram na Cidade do Cabo, um estádio maravilhoso, caro, e a nem a abertura nem a final serão lá…
(Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, em conversa reservada.)

- Não vejo diferença entre dinheiro público ou privado, o que eu quero é a garantia de que eles serão construídos.
(Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA).

- …O Brasil não tem o direito de ter um estádio como o Morumbi e inventar que ele não serve e tentar fazer um estádio novo para a Copa do Mundo. Eu acho que o Morumbi, se tiver que sofrer adequações, que sofra adequações, mas eu acho que o Morumbi é um bom estádio. Precisa melhorar, vamos tentar melhorar. (…) Vamos parar com esse negócio de achar que não tem área para estacionamento, não tem área pra isso, não tem área pra aquilo…
(Presidente Lula, há 10 dias, para a ESPN).

- Eu não acredito que um estádio rico como o do São Paulo, estádio que já coube 100 mil pessoas, não sirva para a Copa. Eu realmente acho estranho…
(Lula, nesta quinta-feira 17 de junho).

Nesta quinta-feira, 17 de junho, a cidade mais rica da América Latina está fora da Copa 2014. Até que os cordéis se movam e todos mostrem suas cartas.

Enquanto um gigantesco vazio, vazio presumivelmente bilionário, ocupa o lugar do Morumbi, é curioso notar e perguntar à CBF, à FIFA, o seguinte: por que a primeira decisão foi exatamente sobre o Morumbi? E por que a urgência, em meio à Copa do Mundo? E mais importante: como estão as outras 11 sedes? O que foi feito nelas? Ou, em alguns dos casos, o que existe além da anunciada intenção de construir um estádio e ser sede?

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