"O COI tem 'tolerância zero' com a corrupção e levará o tema a seu comitê de ética", completa o texto.
Análise da notícia
Se o COI levar mesmo o caso ao seu comitê de ética, seria oportuno não se ater às questões de momento, mas retroceder aos relatórios das CPIs da CBF Nike, na Câmara dos Deputados, e do Futebol, no Sendo Federal.
São os mais completos documentos sobre os bastidores da CBF e do senhor Ricardo Teixeira, produzidos a partir da quebra de sigilos bancários e fiscais da confederação.
Capa do livro que Ricardo Teixeira proibiu de circular
Assim, a reportagem da BBC é mais um capítulo de uma prática que se tornou comum no futebol brasileiro.
A pretexto de ser a instituição legalmente constituída e reconhecida internacionalmente que coordena o futebol brasileiro, a CBF tornou-se um órgão suspeito de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito de muitos.
Memória
Está na página 36 do relatório da CPI da CBF Nike:
“A CBF efetuou transferências para o exterior no mercado flutuante, de novembro de 1995 a março de 2001, o valor de 9,7 milhões de dólares, sendo 2,1 milhões de dólares a título de capital brasileiro de curto prazo – operações com ouro, representando 21,81% no mercado flutuante.”
O que isso significa?
“Essas operações trazem informações incompletas, pois não indicam qual o país de destino nem o nome do recebedor no exterior.”
O dinheiro, claro, foi obtido através dos contratos que a CBF assina com seus vários patrocinadores. Mas são usados em favor de quem? Do fortalecimento interno do futebol? Do uso de novas tecnologias para acabar com a violência nos estádios?
Não! O dinheiro vai para o exterior, mas não se sabem quem é o beneficiado...
Enquanto isso, quem cuida da segurança dos estádios é o Ministério do Esporte, que implantará sistema caríssimo a ser pago com o dinheiro do torcedor-sofredor.
Estarrecedor
Observem o seguinte capítulo:
“Ricardo Teixeira, ao depor na CPI da CBF Nike, não soube explicar o motivo dessas transferências em dólar-ouro para o exterior”.
Que tal? Quanta falta de memória!!
Fonte milionária
O que o jornalista inglês Andrew Jennings tem feito nas últimas décadas é mostrar que o esporte de rendimento tornou-se fonte milionária de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, corrupção e incentivo ao consumo de drogas.
Drogas? Claro! Porque, como dizem os especialistas, “esportes provocam emoções e emoções vendem”.
Assim, quando um atleta vai ao pódio, lindo e sadio, exibindo a marca de seu patrocinador para milhões de pessoas mundo afora, aquela imagem é multiplicadora de um faturamento sem fim.
Estão aí os velocistas norte-americanos – e brasileiros, inclusive – que aos poucos foram se revelando dopados para se tornarem mais fortes, vencedores e, assim, mais ricos, por conta de seus patrocinadores. A cadeia fecha-se nesse círculo.
Seleção
Aqui, como a CBF é responsável pela Seleção Brasileira, tudo é feito de forma nacionalmente legal, inclusive os 11 patrocínios milionários que sustentam a estrutura.
A partir daí, usa-se o Hino Nacional, a Bandeira Nacional e as cores – verde e amarelo – para identificar que essa instituição – a Seleção Canarinho – representa o nosso país.
Ou seja, a Seleção que provoca emoções – e vende, muito – é validada pelo torcedor e tem a chancela governamental, enquanto no outro extremo o cartola esperto envia o dinheiro para o exterior, mas não sabe para onde nem para quem...
Entenderam?
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