terça-feira, 19 de julho de 2011

A cara do Brasil.


Por: Juremir Machado da Silva*

Ricardo Teixeira, o "capo" da CBF, é a cara do Brasil. A cara de um certo Brasil. Recebeu o cargo do sogro, o não menos opaco João Havelange. Gerencia aqui os negócios de uma das mais poderosas e asquerosas instituições internacionais, a Fifa, chamada popularmente de "Mafifa". Arrogante, medíocre, inculto e grosso, Teixeira tem sua posição garantida pelos esquemas que arma. Por um lado, vive da troca que estabelece com os presidentes das federações estaduais de futebol. Como na Idade Média, é uma relação de suserania e vassalagem. Como no Brasil que insiste em ser pré-moderno, é uma relação de rapinagem. Enquanto na Europa a venda dos direitos de transmissão dos campeonatos é feita em leilão com envelope fechado, aqui a CBF vira a mesa, desmoraliza o Cade, o organismo que deveria zelar pela transparência, e impõe a sua lei.

O perfil de Ricardo Teixeira, publicado pela revista Piauí, desmascara uma triste figura. Aparece um homem vulgar, repugnante e violento, que ameaça praticar maldades contra aqueles que o criticam e, certo da impunidade, garante que nada lhe acontecerá. Os presidentes dos clubes brasileiros são responsáveis pela longevidade dessa figura hedionda. Aceitam seu poder discricionário. Em 2005, quando o Internacional foi roubado em favor do Corinthians, não teve coragem de entrar na Justiça comum. Só as ditaduras bloqueiam o acesso à Justiça comum. Ricardo Teixeira é a cara do Brasil que, para ter uma Copa do Mundo e fazer negócios e negociatas, propõe sigilo para transações que deveriam ser as mais transparentes possíveis. É a cara de um Brasil despudorado, que defende sigilo eterno para documentos sensíveis e vive de sucessivos escândalos de corrupção.

É a cara do Brasil que cederá à Fifa, para ter uma Copa do Mundo cara e de importância duvidosa, parte da sua soberania. Em 2014, a Fifa assumirá o comando no país, inclusive com poder para revogar ou suspender leis. No Rio Grande do Sul, a lei que impede o consumo de álcool nos estádios será anulada temporariamente. Comerciantes legitimamente instalados em torno do Beira-Rio perderão o direito de trabalhar. Teixeira é a cara de um Brasil hipócrita, que diz não ter dinheiro para resolver os problemas crônicos de hospitais e escolas, mas, de repente, despeja recursos para construir estádios desnecessários e até vergonhosos, elefantes brancos por antecipação. Não me surpreenderei se Teixeira virar senador. Perfil não lhe falta. O futebol no Brasil, e em boa parte do mundo, é mafioso. Ouvi dizer que também existem senadores mafiosos. Será? Não posso acreditar.

Fico olhando, na televisão, para a cara do Ricardo Teixeira. Os olhos dele revelam um vazio imenso, um abismo, um buraco escuro, certamente explicado pela ausência de cérebro ou, na melhor das hipóteses, por um cérebro hipertrofiado, tendo desenvolvido somente a parte que faz cálculos inconfessáveis e absorve o besteirol do mundo. Para o Brasil começar a mudar só tem um jeito: expulsar da vida pública os Ricardos Teixeiras. Não é tarefa fácil. Valeria uma boa operação cartola. A milhão.

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